
Durante cerimônia oficial sobre os novos percentuais de etanol na gasolina e no diesel, o presidente Lula (PT) voltou a usar o palanque para provocar os Estados Unidos. Em seu discurso, o petista acusou os norte-americanos de menosprezarem a produção agrícola brasileira, especialmente a chamada “safrinha de milho”, que hoje representa a maior parte da colheita do país.
Na tentativa de apelar ao sentimento nacionalista, Lula comparou a suposta desvalorização da safra brasileira à eterna disputa sobre a invenção do avião. “Da mesma forma que eles nunca reconheceram que quem inventou o avião foi Santos Dumont”, ironizou, ignorando o fato de que o foco da cerimônia era energia e biocombustíveis.
O presidente ainda cobrou uma postura mais firme do chanceler Mauro Vieira, criticando o que chamou de submissão diplomática. Disse que o Brasil precisa ser respeitado por sua soberania agrícola, citando números de produção de milho e até de uva no Nordeste. A fala, no entanto, foi vista por especialistas como mais uma tentativa de criar antagonismos externos para desviar o foco dos problemas internos.
A “safrinha” surgiu com o avanço da tecnologia no campo, permitindo o plantio de milho na entressafra, após a colheita da soja. Hoje, essa produção representa 70% do total nacional de milho, com plantio entre fevereiro e abril. O termo, no entanto, permaneceu mesmo com sua relevância econômica já superando a da safra tradicional.
Lula criticou que os EUA só reconheciam a “safrinha” enquanto ela era menor, mas hoje que supera a safra de verão, teriam deixado de reconhecer seu valor. A acusação soa mais como retórica populista, já que o setor agrícola brasileiro continua crescendo com base em tecnologia, produtividade e livre mercado, e não por discursos inflamados.
Para analistas do agronegócio, o que o Brasil precisa é de parcerias comerciais sólidas e previsíveis, não de discursos ideológicos contra os principais mercados importadores. A tentativa de transformar uma questão técnica em embate diplomático pode prejudicar o país, justamente num momento em que o setor agropecuário vem sustentando a economia.