
A resposta apressada do ministro Luís Roberto Barroso ao editorial da revista The Economist gerou um mal-estar dentro do próprio Supremo Tribunal Federal. A nota, divulgada por Barroso no último sábado (19), não teria sido debatida com os demais ministros, e causou incômodo entre os pares, que se viram envolvidos em uma declaração institucional sem consentimento.
A reportagem da Revista Oeste revelou que alguns ministros se sentiram desconfortáveis com a decisão unilateral de Barroso, especialmente por se tratar de um tema delicado com repercussão internacional. A fala do presidente da Corte acabou arrastando toda a imagem do STF para o centro do debate, justamente num momento em que a Corte já enfrenta críticas sobre excesso de poder e ativismo judicial. No editorial intitulado “Brazil’s Supreme Court is on trial”, a revista britânica afirmou que o STF concentra um poder incomum em democracias desenvolvidas.
A publicação destacou que decisões monocráticas de ministros, sem qualquer consulta ao colegiado, afetam a vida de milhões de brasileiros e colocam os magistrados em posição de celebridades intocáveis.
O principal alvo da crítica foi o ministro Alexandre de Moraes, retratado como figura polêmica e centralizadora nos processos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e aos fatos de 8 de janeiro. A Economist reconheceu os desafios enfrentados pelo Brasil, mas reforçou a necessidade de limites ao poder do Supremo e mais equilíbrio institucional.
Barroso, por sua vez, reagiu tentando desmentir a publicação. Disse que o Brasil vive “uma democracia plena” e negou ter declarado que o STF derrotou Bolsonaro. No entanto, a própria fala do ministro em julho de 2023, durante congresso da UNE, foi registrada em vídeo com clareza: “Nós derrotamos o bolsonarismo”.
A frase gerou repercussão imediata na época e segue sendo usada como prova do viés político da Suprema Corte. Juristas e parlamentares alegam que tal posicionamento compromete a isenção dos julgamentos, principalmente os que envolvem Bolsonaro ou seus aliados. Com a nota recente, Barroso reacende essa desconfiança.
Diante do desgaste interno e externo, a tentativa de defesa institucional saiu pela culatra. Ao agir de forma isolada, Barroso não apenas expôs a divisão dentro do STF, mas também reacendeu o debate sobre a falta de freios ao poder de ministros que se julgam acima da Constituição e da sociedade.