
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), fez um alerta claro e direto a Lula durante um jantar reservado no Palácio da Alvorada, no domingo (19/10). Motta, que não constava na agenda oficial, recomendou que o Ministério da Fazenda postergue o envio de qualquer novo pacote econômico ao Congresso até que o governo reconquiste a confiança da base aliada.
A orientação teve como pano de fundo a derrota da medida provisória que substituiria o IOF — um fracasso que custou ao Tesouro cerca de R$ 30 bilhões em arrecadação estimada.
No encontro, Motta ressaltou a importância de um diálogo renovado com os deputados, em especial com as bancadas do Centrão, antes de qualquer tentativa de aprovar medidas que mexam com receitas públicas.
A perda da MP do IOF expôs fragilidades na articulação política do Planalto e demonstrou que enviar propostas ao Congresso sem costura prévia pode resultar em novas derrotas e prejuízos fiscais. Para Motta, o governo precisa garantir base firme em plenário para evitar reveses semelhantes.
Após o fracasso da medida provisória, o governo passou a promover cortes em cargos indicados por parlamentares que não apoiaram a MP — uma resposta que só aumentou o desconforto entre aliados. Parlamentares relataram ao presidente da Câmara que a estratégia de retaliação tensionou ainda mais as negociações e que somente um acerto político consistente permitirá avançar com propostas de compensação da arrecadação perdida. O recado foi duro: sem entendimento com o Congresso, não haverá aprovação tranquila de um novo pacote econômico.
O episódio revela a dificuldade do Planalto em costurar apoio e a força que o Congresso exibe quando decide fechar fileiras. Hugo Motta deixou claro que o envio precipitado de medidas fiscais ao Legislativo pode agravar o quadro econômico do governo e encurralar a própria governabilidade. Em suma: se Lula quer aprovar o pacote de compensação do rombo deixado pela MP do IOF, terá primeiro de resolver a crise de articulação política com a base — especialmente com o Centrão — no Parlamento.
