
Lula voltou a transformar um episódio diplomático em palanque ideológico. Nesta quinta-feira (25), classificou como “abominável” a decisão do governo norte-americano, sob a administração de Donald Trump, de emitir um visto masculino para a deputada Erika Hilton (Psol-SP), que se identifica como mulher trans. Ignorando a soberania norte-americana, Lula partiu para o ataque e defendeu que a única autoridade sobre o tema é o Brasil — mais especificamente, a própria deputada e “a ciência”.
O caso ganhou repercussão após a Embaixada dos Estados Unidos justificar a emissão do visto com base na política do governo Trump, que reconhece apenas dois sexos biológicos: masculino e feminino. Para a diplomacia americana, o documento seguiu critérios objetivos baseados no passaporte apresentado e na legislação vigente do país, o que gerou reação desproporcional do presidente brasileiro, claramente interessado em agradar sua base militante.
Erika Hilton, por sua vez, tentou politizar o episódio ainda mais. Após se reunir com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a deputada se disse frustrada por não receber um posicionamento formal do Itamaraty. Na conversa com Lula, no entanto, recebeu o que queria: uma fala carregada de simbolismo, mas vazia de efetividade. O presidente disse que o governo “defenderá a soberania brasileira”, embora o episódio trate de um documento emitido por outro país, sob sua própria jurisdição.
A deputada classificou a manifestação de Lula como “muito firme e contundente”, reforçando que sua demanda era um apelo “de cidadã brasileira”. A narrativa construída tenta apresentar o caso como uma afronta à diplomacia nacional, quando, na prática, trata-se de um procedimento interno de outro Estado soberano. No fundo, o governo brasileiro tenta impor sua agenda identitária a um aliado que não compartilha das mesmas diretrizes.
Em um momento em que o país enfrenta inflação, escândalos de corrupção e instabilidade institucional, o foco do governo parece deslocado. Ao invés de buscar fortalecer as relações internacionais com equilíbrio, Lula prefere tensionar o cenário diplomático com uma retórica ideológica voltada para consumo interno. O episódio reforça que, para o atual governo, bandeiras identitárias continuam sendo prioridade acima de temas urgentes da população.
A politização de uma questão burocrática demonstra a necessidade que o Palácio do Planalto tem de alimentar sua base ideológica, mesmo ao custo de desgastes diplomáticos com parceiros comerciais importantes. A tentativa de transformar uma questão administrativa em símbolo de “resistência” revela mais uma vez o uso político de narrativas progressistas como distração diante dos problemas reais do Brasil.