A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de ampliar o alcance do foro privilegiado reacendeu o debate sobre a influência da Justiça nas eleições e provocou forte impacto nos bastidores da política nacional, especialmente entre os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Por 7 votos a 4, a Corte determinou que autoridades manterão foro no STF mesmo após deixarem o cargo, desde que ainda exerçam influência política.
A medida, que poderia ser interpretada como técnica, rapidamente ganhou contornos políticos — e um dos primeiros alvos foi Gilberto Kassab, presidente do PSD, partido que vinha se aproximando do campo bolsonarista.
Kassab sob pressão: recado claro do Judiciário
Logo após a decisão da Corte, o ministro Alexandre de Moraes determinou o retorno ao STF de um inquérito contra Kassab, que havia sido arquivado pela Justiça Eleitoral. Embora a Procuradoria-Geral da República (PGR) ainda vá decidir se dá andamento ao processo, a mensagem nos bastidores políticos foi interpretada como um sinal direto do Judiciário contra articulações que envolvam alianças com a oposição.
“É uma perseguição contra a direita. Não é coincidência que isso aconteça justamente quando o partido se aproxima da oposição”, afirmou o deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR), vice-líder do partido. A reativação do processo acontece justamente no momento em que o PSD articula uma possível chapa com o PL de Bolsonaro, tendo como possível cabeça o governador do Paraná, Ratinho Júnior. Para analistas e parlamentares, trata-se de uma tentativa velada de interferência no tabuleiro eleitoral antes mesmo de a campanha começar.
Outros nomes da direita também enfrentam pressão judicial
Além de Kassab, outros líderes da oposição passaram a encarar movimentações judiciais que, direta ou indiretamente, impactam suas ambições políticas:
Ciro Nogueira (PP-PI) foi denunciado por obstrução de justiça em casos ligados à corrupção na Petrobras. O STF rejeitou a acusação, mas a PGR ainda pode recorrer.
Ronaldo Caiado (União-GO), que lançou sua pré-candidatura à Presidência, foi condenado por abuso de poder político e aguarda julgamento no TSE, o que pode comprometer sua elegibilidade.
Em meio a esse cenário, Caiado tem adotado um tom mais cauteloso, sugerindo moderação no embate com o Judiciário. Em entrevista ao portal Metrópoles, disse: “Debater impeachment de ministros do STF não interessa ao povo”, em um gesto interpretado como tentativa de apaziguamento — ou de autopreservação política.
STF amplia alcance do foro e reforça controle sobre o jogo político
Com a nova interpretação sobre o foro privilegiado, o STF retoma a competência sobre processos envolvendo figuras influentes, e passa a ter maior controle sobre a permanência ou não de ações penais em trâmite. Isso significa que, mesmo após o fim de mandatos, lideranças políticas continuarão sob alçada da Corte, o que pode gerar um clima de insegurança jurídica em torno de pré-candidaturas e alianças.
Basta que um inquérito não seja arquivado — ou que um processo retorne ao STF — para que a dúvida sobre a situação jurídica do político se torne um freio estratégico em movimentações eleitorais.
Para críticos, o STF promove uma “judicialização seletiva” do debate político, com decisões formais que acabam funcionando como instrumentos de pressão política antecipada.
Já aliados do Planalto defendem que a Corte cumpre seu papel constitucional e age com rigor diante de tentativas de blindagem por meio do foro ou alianças que flertem com anistia aos atos de 8 de janeiro.
Kassab no centro da encruzilhada política
Com o inquérito reativado, Kassab se vê diante de uma escolha difícil:
Se mantiver a aproximação com Bolsonaro, pode enfrentar desgaste político e riscos jurídicos;
Se recuar, enfraquece a formação de uma chapa de oposição competitiva para 2026.
Enquanto isso, o cenário é claro:
A corrida eleitoral de 2026 já começou — mas nos tribunais.
E, neste novo tabuleiro, ter foro privilegiado não garante absolvição, mas perder o foro também não garante liberdade. O peso do ambiente jurídico sobre o calendário político nunca foi tão evidente.
Informações Revista Oeste