O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) protocolou, em abril de 2025, um requerimento de informação junto ao Ministério das Comunicações para esclarecer o patrocínio de R$ 4 milhões concedido pelos Correios à turnê do cantor Gilberto Gil, intitulada “Tempo Rei”. A iniciativa ocorre em um momento crítico para a estatal, que enfrenta uma crise financeira com prejuízo acumulado de R$ 2,2 bilhões apenas neste ano, conforme admitido pela própria empresa.
O parlamentar exige a apresentação do parecer técnico que justificou a decisão, além de questionar a adequação do gasto diante das dificuldades operacionais da companhia. Servidores da estatal manifestaram indignação, apontando que, enquanto o patrocínio foi aprovado, benefícios como plano de saúde foram suspensos por falta de pagamento, e repasses ao FGTS estão atrasados. A turnê, iniciada em março e com encerramento previsto para novembro, tem ingressos que chegam a R$ 1.530, valor superior ao salário mínimo de R$ 1.518.
A polêmica se intensifica porque os Correios figuram como patrocinadores ao lado de marcas de luxo, como a Rolex, em um contexto de ameaça de greve e atrasos a transportadores terceirizados. A ação do deputado reflete a preocupação com a gestão de recursos públicos, especialmente em uma empresa que enfrenta denúncias de má administração. O governo Lula, por meio da estatal, justificou o investimento como parte de um esforço de reposicionamento de marca, mas a decisão tem gerado críticas tanto no Congresso quanto entre os trabalhadores.
Os Correios, sob a presidência de Fabiano Silva dos Santos desde agosto de 2023, enfrentam um cenário financeiro delicado, com déficits que comprometem sua operação. Relatórios internos apontam que, além do prejuízo de R$ 2,2 bilhões em 2025, a estatal acumula dívidas com fornecedores e terceirizados, enquanto trabalhadores denunciam a falta de repasses ao FGTS desde o início do ano. O plano de saúde corporativo, conhecido como Postal Saúde, foi descredenciado por falta de pagamento, deixando milhares de funcionários sem assistência médica. Nesse contexto, a decisão de destinar R$ 4 milhões à turnê de Gilberto Gil, um dos maiores nomes da música brasileira, gerou forte reação.
A estatal argumenta que o patrocínio visa fortalecer sua imagem institucional, associando a marca a eventos culturais de grande visibilidade. No entanto, críticos apontam que a escolha ignora prioridades mais urgentes, como a regularização de benefícios trabalhistas. Dados mostram que os Correios já investiram R$ 38,4 milhões em patrocínios desde o início do governo Lula, incluindo R$ 6 milhões para o festival Lollapalooza e R$ 1,3 milhão para o Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas, em Brasília.
Essas despesas contrastam com a situação de sucateamento relatada por sindicatos, que destacam a precariedade de agências e a sobrecarga de funcionários. A gestão anterior, sob o governo Bolsonaro, havia reduzido investimentos culturais, mas a atual administração parece apostar no marketing cultural como estratégia, mesmo diante de resultados financeiros negativos
A decisão dos Correios de bancar a turnê de Gilberto Gil com R$ 4 milhões desencadeou uma onda de críticas que vai além do requerimento do deputado Luiz Philippe. Parlamentares da oposição, como Gustavo Gayer (PL-GO) e Junio Amaral (PL-MG), também se manifestaram, chegando a acionar o Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar a gastança.
Gayer classificou o patrocínio como “uma afronta aos trabalhadores”, enquanto Amaral sugeriu que a estatal está sendo usada para beneficiar aliados políticos. A indignação dos servidores ganhou eco nas redes sociais, onde a hashtag “Correios” chegou aos assuntos mais comentados em abril de 2025. Funcionários relatam que a crise financeira compromete a entrega de correspondências, com transportadoras terceirizadas paralisando serviços por atrasos de até 60 dias nos pagamentos.