
Mensagens atribuídas ao tenente-coronel Mauro Cid, delator na ação penal sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, estão colocando em xeque a validade de sua colaboração com o Supremo Tribunal Federal.
O conteúdo foi anexado a um documento entregue nesta segunda-feira (16) ao ministro Alexandre de Moraes, pelo advogado Eduardo Kuntz, defensor do coronel Marcelo Câmara, também réu no processo. As conversas ocorreram entre janeiro e março deste ano, por meio de um perfil falso no Instagram: @gabrielar702.
Segundo a defesa, foi o próprio Mauro Cid quem procurou o advogado, utilizando o perfil clandestino. Para confirmar sua identidade, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro teria enviado uma selfie fazendo sinal de “joinha”, usando o recurso de visualização única. Diante da suspeita de se tratar de uma possível armadilha ou de uma ação controlada, Kuntz documentou todo o contato em ata notarial com mais de 50 páginas e formalizou o envio das provas ao STF, somando um total de 143 laudas no processo.
O conteúdo revela que Cid compartilhou informações sigilosas do acordo de delação com outro réu, o que constitui uma violação direta dos termos assinados com a Justiça. A defesa de Câmara afirma que a conduta do militar torna o acordo inválido e contamina todas as provas dele derivadas. “O malfadado acordo de colaboração premiada firmado com o TC Cid não pode e nem deve prosperar”, diz a petição protocolada no Supremo. A revelação gerou ainda mais pressão para que o STF anule imediatamente a colaboração.
As mensagens também desmontam a narrativa dos advogados de Cid — Cezar Bitencourt, Jair Alves Pereira e Vânia Adorno — que chamaram os prints divulgados pela revista Veja de “fake news”. A autenticidade foi confirmada nos próprios registros enviados ao Supremo. Em tom de frustração, Cid se refere a Bitencourt como “Biden” e critica erros cometidos na defesa, mas afirma que o mantém no caso porque ele “senta com o AM (Alexandre de Moraes)” e teria sido decisivo para evitar sua prisão.
As críticas não param por aí. Em outro trecho, Mauro Cid chama Moraes de “Kadafi do Judiciário”, mostrando claramente o nível de desconforto e revolta com a forma como as investigações foram conduzidas. O militar ainda revela que a então vice-procuradora Lindôra Araújo o teria informado sobre os processos em andamento e diz que, mesmo sem encontrar nada contra ele em 2021, o ministro ordenou que fossem feitos relatórios semanais até surgirem elementos que pudessem incriminá-lo.
A revelação do caso ocorreu dias após a imprensa noticiar trechos das conversas mantidas por Mauro Cid com Eduardo Kuntz, via Instagram. Como reação, Moraes já havia determinado que a Meta, empresa responsável pela rede social, fornecesse os dados dos perfis suspeitos e preservasse o conteúdo das contas. Agora, com a confirmação da autenticidade dos diálogos, o acordo de delação perde legitimidade e fortalece a tese de perseguição política.
A defesa de Jair Bolsonaro também entrou em ação e, com base nas provas apresentadas por Kuntz, solicitou ao STF a anulação do acordo de delação de Mauro Cid. O argumento é claro: Cid quebrou o sigilo, compartilhou informações com outros réus, mentiu em depoimentos e comprometeu a integridade das investigações. A cada nova revelação, a delação se mostra mais frágil — e a narrativa de golpe, cada vez mais insustentável.