
Nem os analistas historicamente alinhados à esquerda conseguiram defender a conduta do ministro Alexandre de Moraes. O jornalista Matheus Leitão, filho da colunista Miriam Leitão e figura conhecida no meio progressista, classificou a intimação de Jair Bolsonaro na UTI como “um dos atos mais abjetos do Supremo nos últimos anos”. A declaração causou espanto, vinda de um setor normalmente protetor do STF.
Quando uma crítica tão contundente parte de dentro do próprio campo ideológico do ministro, é sinal de que algo muito grave aconteceu. Leitão foi direto: chamou o episódio de indigno e sem precedentes, ressaltando que nem mesmo durante sua cobertura de anos na capital viu algo comparável em termos de exposição e falta de sensibilidade institucional.
Em um texto firme, publicado na quinta-feira (25), o jornalista destacou que o gesto de Moraes, ao autorizar a intimação de Bolsonaro em plena UTI, acabou por jogar o STF em uma armadilha política. Mesmo que haja processos em curso, o momento e a forma da citação demonstraram pressa e insensibilidade, o que virou munição para a narrativa de perseguição.
Bolsonaro, que ainda se recuperava de uma cirurgia delicada no intestino, estava sob sedação e em observação clínica. A cena da oficial de Justiça na UTI, registrada e divulgada, rapidamente viralizou. A repercussão foi tão negativa que até veículos normalmente simpáticos ao Supremo admitiram o erro. A imagem tem peso simbólico e político.
Leitão alertou que a medida serviu apenas para fortalecer a principal tese do ex-presidente: a de que está sendo vítima de perseguição judicial. Pior ainda: transformou um procedimento técnico em espetáculo. Em vez de agir com a discrição esperada, o tribunal agiu com rigidez desnecessária e acabou comprometendo sua própria autoridade moral.
“O STF caiu na armadilha do bolsonarismo”, escreveu o jornalista, destacando que o ato de Moraes foi “totalmente desnecessário”. A crítica ganha ainda mais peso por vir de quem nunca foi identificado com a direita, o que reforça a gravidade da crise de imagem enfrentada atualmente pelo Supremo.
A nota oficial divulgada pelo STF para tentar justificar a decisão só agravou a situação. Usar uma live feita por Bolsonaro como desculpa institucional causou desconforto até mesmo nos bastidores do Judiciário. Como pontuou Leitão: quando uma Corte precisa explicar seu gesto com pressa, é sinal de que o gesto falhou.
A direção do hospital DF Star confirmou que o quadro clínico de Bolsonaro piorou após a intimação. Houve elevação da pressão arterial e necessidade de monitoramento mais rigoroso. O que deveria ser apenas um passo burocrático se tornou uma cena de humilhação pública para um ex-presidente em tratamento intensivo.
Juristas conservadores e independentes ressaltaram que o Código de Processo Penal veta intimações em condições de saúde grave, o que torna o episódio ainda mais controverso. O erro não foi apenas político: foi jurídico. Um simples adiamento, baseado no respeito à integridade do paciente, evitaria o vexame.
Matheus Leitão ainda lembrou do caso de Lula, condenado em tempo recorde, posteriormente inocentado e transformado em mártir. Agora, ao que tudo indica, o STF corre o risco de repetir a história com Bolsonaro — usando o próprio erro como combustível para um retorno ainda mais forte do ex-presidente.