
O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que já protagonizou embates públicos ao xingar Alexandre de Moraes de “canalha”, “lixo” e “déspota”, protagonizou uma reviravolta surpreendente. No início de maio, ele foi pessoalmente ao gabinete do ministro do STF para pedir perdão pelas ofensas proferidas anos antes, num gesto interpretado como tentativa de evitar a cassação de seu mandato.
Em 2020, Otoni era vice-líder do governo Bolsonaro e se destacou por criticar duramente o STF, especialmente após Moraes ordenar a quebra de sigilo bancário de 11 parlamentares. À época, também defendeu o jornalista Oswaldo Eustáquio, censurado pelo Supremo, e se tornou réu por injúria, difamação e coação. Agora, diante da ameaça concreta de perder o cargo, mudou o tom e buscou um “acordo de não persecução penal”.
Segundo o próprio parlamentar, o encontro foi “respeitoso” e Moraes demonstrou abertura para o diálogo. Otoni entregou uma carta escrita à mão em que afirma ter se excedido “tomado por forte emoção”. Disse ainda que seguirá criticando decisões da Corte, mas de forma institucional, sem ataques pessoais. Moraes teria dito que a crítica nunca foi problema, mas os insultos, sim.
A súbita mudança de postura levanta questionamentos. Para muitos conservadores, o gesto foi visto como rendição vergonhosa a um ministro acusado de extrapolar seu poder. A base bolsonarista, inclusive, reagiu com frustração nas redes, acusando Otoni de “fraquejar” diante do sistema que ele mesmo denunciava.
A verdade é que esse episódio ilustra como o ativismo judicial transformou o STF em uma espécie de tribunal inquestionável. Parlamentares agora se veem obrigados a pedir desculpas em particular, como se estivessem diante de um soberano. A cena é simbólica do desequilíbrio entre os Poderes que marca a atual crise institucional brasileira.