
Durante o evento jurídico anual realizado em Lisboa e organizado por Gilmar Mendes — popularmente chamado de “Gilmarpalooza” — o ministro do STF André Mendonça protagonizou um dos momentos mais marcantes do encontro. Em meio a uma plateia composta por juristas, ministros e acadêmicos, Mendonça fez um discurso que, mesmo sutil, foi interpretado como um claro recado a práticas abusivas dentro do próprio Supremo Tribunal Federal.
Com serenidade, mas sem fugir da contundência, Mendonça abordou o desgaste da imagem da Corte perante a população brasileira. Ele destacou a crescente perda de credibilidade do STF, ressaltando que a instituição precisa se reconectar com os valores constitucionais. “O povo deposita em nós a esperança de que a Constituição será respeitada”, afirmou, sendo calorosamente aplaudido por quem acompanhava o evento.
A fala, sem citar nomes, soou como um alerta direto ao colega Alexandre de Moraes. Os inquéritos conduzidos por Moraes — que envolvem jornalistas, parlamentares e cidadãos comuns — vêm sendo alvos constantes de críticas por violarem princípios como o contraditório, a ampla defesa e a separação entre as funções de julgar, acusar e investigar. Mendonça, com elegância, rompeu o silêncio institucional que cerca tais abusos.
Críticos apontam que Alexandre de Moraes concentra poderes de maneira incompatível com a função de um juiz constitucional. Age como delegado, promotor e juiz ao mesmo tempo, o que representa um claro desvio de função e um risco real ao Estado Democrático de Direito. Mendonça, ao cobrar respeito irrestrito à Constituição, colocou o dedo na ferida — e o fez com coragem rara dentro do STF.
A repercussão foi imediata. Nas redes e nos bastidores jurídicos, muitos viram na fala de Mendonça um gesto simbólico de resistência contra o autoritarismo togado. Ao escolher Lisboa como palco de sua fala, Mendonça mostrou que, mesmo em um ambiente informal, há ministros dispostos a denunciar os excessos que corroem a democracia brasileira.
Enquanto Moraes continua usando o aparato do Supremo para perseguir e silenciar vozes dissonantes, Mendonça reafirma o que deveria ser óbvio: juiz não é dono da Constituição, é seu servidor. E nesse embate entre autoritarismo e legalidade, a fala do ministro representa uma faísca de esperança no meio da escuridão institucional.