Senado marca audiência para ouvir ex-assessor de Moraes

A Comissão de Segurança Pública do Senado realizará na próxima terça-feira (29) uma audiência pública crucial para ouvir Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tagliaferro foi indiciado pela Polícia Federal sob a acusação de violação de sigilo funcional, com danos à administração pública.

O requerimento para a audiência foi apresentado pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), que denuncia um esquema onde o gabinete de Moraes teria, em 2022, encomendado a produção de relatórios clandestinos no TSE para atacar apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro. Entre os convidados também estão os juízes Marco Antônio Martins Vargas e Airton Vieira, ambos com estreita ligação com o gabinete de Moraes. Até o momento, porém, não confirmaram presença para prestar esclarecimentos.

Outro nome que pode comparecer é o do influenciador português Sérgio Tavares, que divulgou vídeos bombásticos mostrando Tagliaferro revelando seu temor de ser preso por ordens de Moraes e admitindo cogitar deixar o Brasil para escapar de perseguições.

Indiciado em abril, Eduardo Tagliaferro chefiava a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE. De acordo com a PF, enquanto ocupava o cargo, teria vazado informações internas para a imprensa, abalando ainda mais a já combalida imagem de imparcialidade da Corte.

As mensagens que incriminam Tagliaferro vieram à tona após a apreensão de seu celular em 2023, quando foi preso por suspeita de violência doméstica. A investigação revelou o uso das informações sigilosas para atingir politicamente o ex-presidente Bolsonaro.

Segundo a Polícia Federal, o ex-assessor teria compartilhado com a Folha de S.Paulo detalhes internos das operações do TSE, numa tentativa de expor a atuação parcial de Moraes e seus assessores na perseguição a opositores políticos.

A defesa de Tagliaferro, no entanto, nega qualquer ilegalidade. O advogado Eduardo Kuntz afirma que seu cliente é inocente e questiona duramente a consistência da investigação conduzida pela Polícia Federal.

Curiosamente, a PF destacou que, em depoimento, Tagliaferro tentou jogar a culpa pelo vazamento nas costas da Polícia Civil de São Paulo. Após receber de volta seu celular, o ex-assessor afirmou ter encontrado defeitos no aparelho e decidiu descartá-lo.

As investigações fazem parte do escândalo conhecido como “Vaza Toga”. Em 2024, a Folha revelou uma série de mensagens que comprovam a atuação direta do gabinete de Moraes no comando de ações contra militantes bolsonaristas.

De acordo com os áudios e mensagens trocadas, Moraes não apenas conduzia a investigação como também direcionava a produção de provas no TSE, para, posteriormente, agir como julgador dos mesmos casos — um abuso flagrante contra o devido processo legal.

O escândalo reforça o alerta de que setores do Judiciário brasileiro caminham perigosamente para uma atuação política e persecutória, colocando em risco os princípios mais básicos do Estado de Direito.