
A Polícia Federal revelou um dos casos mais graves de corrupção no Judiciário brasileiro nos últimos anos: um esquema de venda de sentenças dentro do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI), envolvendo um desembargador, sua filha e empresários locais. A operação, fundamentada em depoimentos, relatórios do Coaf e análise processual, expôs como decisões judiciais eram negociadas em troca de milhões de reais.
O principal delator, João Gabriel Costa Cardoso, ex-assessor do desembargador José James Gomes Pereira, detalhou como a corrupção era coordenada por Lia Rachel de Sousa Pereira Santos, filha do magistrado e advogada. Segundo a PF, ela exercia influência direta sobre o gabinete, determinando quais processos deveriam ser priorizados e até quem seria beneficiado nas decisões. Relatórios indicam que Lia controlava o fluxo das sentenças, interferindo em julgamentos em troca de pagamentos vultosos.
Um dos beneficiados seria o produtor rural João Antônio Franciosi, apontado como pagador de R$ 26 milhões por uma sentença favorável. A PF ainda descobriu indícios de grilagem de terras e lavagem de dinheiro, com parte dos valores ilícitos sendo ocultados em transações imobiliárias, como a compra de uma casa no condomínio Aldebaran Ville, em Teresina. Os investigadores encontraram movimentações bancárias e contratos suspeitos que reforçam o elo entre a advogada e os pagamentos.
Além das vendas de decisões, o depoimento de João Gabriel revelou também um esquema de rachadinha no gabinete. O ex-assessor foi obrigado a repassar cerca de 30% do seu salário ao policial rodoviário federal Francisco Jailson Holanda de Sousa, ex-assessor do mesmo gabinete. Mesmo depois de ingressar na PRF, Jailson continuava frequentando o tribunal e participando, indiretamente, da execução das ordens de Lia Rachel.
As investigações seguem em curso e apontam crimes de corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. A PF já realizou buscas e apreensões, e novas diligências estão sendo preparadas para identificar a rede de influência que sustentava o esquema dentro do TJ-PI. O caso expõe mais um capítulo da degradação ética do Judiciário brasileiro, que parece ter se transformado num mercado de decisões à venda — com toga, carimbo e conivência institucional.
