
O papel do Brasil diante da crise venezuelana voltou ao centro das discussões internacionais depois que María Corina Machado, que recentemente recebeu o Prêmio Nobel da Paz, defendeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve aconselhar Nicolás Maduro a deixar o poder.
Ela afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que o país vizinho enfrenta uma situação insustentável, a qual exige ação clara dos governos da América do Sul.
Por videochamada, María Corina relatou que vive há 14 meses em isolamento absoluto dentro da Venezuela, sem ver os filhos há dois anos e em local mantido em sigilo. Segundo ela, somente a libertação do país permitiria seu retorno à vida pública.
“Estou em isolamento físico total”, contou, à Folha. “Já faz 14 meses que estou absolutamente sozinha.”
Pressão internacional e repressão interna
A líder opositora destacou que a atuação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem sido decisiva para pressionar Maduro. “O presidente Trump está fazendo muito para que isso aconteça”, disse, em referência à possibilidade de uma transição de poder na Venezuela. Ela negou envolvimento com operações secretas da CIA e ressaltou que tais ações têm condução exclusiva dos norte-americanos.
María Corina também respondeu sobre operações antinarcóticos no Caribe, que resultaram na morte de 27 suspeitos de tráfico. Ela afirmou que o verdadeiro responsável pela escalada de violência é Maduro e que a repressão se intensificou depois da eleição presidencial de 28 de julho de 2024, marcada por denúncias de fraude. “Declarou guerra e iniciou a pior onda de repressão”, explicou a opositora à Folha.
María Corina cobra governo brasileiro
Indagada sobre o papel do Brasil, ela defendeu que não há espaço para neutralidade diante da crise. María Corina pediu uma atuação mais firme do governo brasileiro e sugeriu que Lula utilize os canais diplomáticos disponíveis para pressionar Maduro.
“Seria muito útil que o presidente Lula… enviasse uma mensagem clara a Maduro: ‘Chegou a sua hora de ir embora’”, afirmou. “‘Acabou. Vá, para o seu próprio bem, Maduro. Aceite isso’.”
Sobre a possibilidade de integração regional, María Corina Machado declarou que, caso a oposição assuma o governo, pretende fortalecer laços políticos e sociais entre os países sul-americanos. Ela citou o avanço do crime organizado na região e defendeu esforços conjuntos para garantir segurança e desenvolvimento. “A tragédia venezuelana demonstrou que não é possível isolar as dinâmicas dentro das fronteiras”, disse à Folha.
Em relação à diáspora venezuelana, ela agradeceu a acolhida oferecida pelo Brasil e afirmou que uma Venezuela democrática traria benefícios econômicos e sociais para os dois países. Ela ressaltou a importância do Brasil em promover a estabilidade regional.