
O Palácio do Planalto está intensificando sua articulação política para conter o avanço do polêmico Projeto de Lei da Anistia. A principal estratégia do governo federal será colocada em prática em um jantar agendado entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), junto com líderes partidários da Casa, logo após o feriado prolongado.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, será peça-chave nesse movimento. Segundo fontes próximas ao núcleo do governo, Lula e Gleisi pretendem utilizar o jantar como uma plataforma de convencimento político, destacando os riscos jurídicos, institucionais e políticos da aprovação da proposta que, segundo o discurso petista, visa diretamente beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente réu no chamado “inquérito do golpe”.
Alta tensão no Congresso Nacional
O projeto da anistia vem causando fortes divisões no Congresso. De um lado, há parlamentares da oposição e da base conservadora que defendem a proposta como uma maneira de pacificar o país e reparar o que consideram abusos de autoridade contra manifestantes e apoiadores do ex-presidente. Do outro, o governo e parte significativa da base aliada temem que a aprovação do texto represente uma sinalização perigosa de impunidade, especialmente em relação a crimes contra a democracia.
De acordo com fontes do Planalto, Lula tem repetido a seus aliados que é necessário “frear essa pauta antes que ganhe corpo”. O governo está especialmente preocupado com o requerimento de urgência que pode acelerar a tramitação do projeto na Câmara. Para evitar isso, a estratégia é usar a fila de mais de dois mil pedidos de urgência acumulados na Casa como argumento técnico para travar a tramitação do texto.
Governo tenta evitar clima de confronto direto
Apesar do esforço, o Planalto evita assumir postura de enfrentamento público. Gleisi Hoffmann destacou em entrevista recente que o governo “não está numa operação de retaliação”, mas sim “numa operação de esclarecimento”. Segundo ela, o objetivo é alertar os parlamentares sobre o “impacto político, jurídico e institucional de uma medida como essa”.
Nos bastidores, contudo, a preocupação é clara: o avanço do projeto pode comprometer a imagem do governo junto ao eleitorado mais progressista e ainda fortalecer politicamente Bolsonaro, que vem tentando se reposicionar como vítima de perseguição política por parte do Judiciário e do Executivo.
Aproximação com o Legislativo: estratégia de médio prazo
Esse jantar com Hugo Motta faz parte de uma estratégia mais ampla de Lula para se reaproximar do Congresso Nacional. Recentemente, o presidente já havia promovido um encontro semelhante com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), na residência oficial do Senado. A intenção é clara: estreitar laços e criar um canal direto com os principais articuladores do Congresso para evitar surpresas e rupturas institucionais.
Para o governo, é vital conter o avanço de pautas sensíveis como o PL da Anistia, especialmente em um momento em que o Judiciário e o Executivo tentam demonstrar coesão no enfrentamento às ameaças ao Estado Democrático de Direito. A aprovação da proposta seria vista como um revés simbólico e político para Lula.
Além disso, o cenário também está sendo acompanhado de perto por analistas políticos e investidores, que avaliam o avanço ou recuo do projeto como um termômetro da estabilidade institucional e da governabilidade de Lula no segundo mandato. Um Congresso fragmentado e politicamente polarizado pode representar um desafio contínuo para o Planalto, principalmente em pautas que exigem ampla maioria.
Conclusão: governo se movimenta, mas cenário segue imprevisível
Enquanto o jantar não ocorre, os bastidores de Brasília fervem. Deputados da oposição se mobilizam para pressionar Hugo Motta a pautar a urgência do PL da Anistia, enquanto o governo corre contra o tempo para minar o apoio à proposta antes que ela ganhe força suficiente para ser inevitável.
A articulação política de Lula será posta à prova. Caso consiga barrar o projeto, reforça seu poder de negociação e sua capacidade de liderança no Legislativo. Caso contrário, terá que lidar com os desdobramentos políticos e simbólicos da aprovação de uma proposta que, para muitos, é vista como uma tentativa de apagar crimes cometidos contra a ordem democrática.
O jogo está em curso, e o placar ainda está em aberto.