
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ), sob a administração de Donald Trump, iniciou uma revisão do acordo de leniência firmado com a Odebrecht relacionado às investigações da Lava Jato. A ação foi formalizada nessa quinta-feira (24) por meio de uma carta enviada por Edward Martin, procurador-assistente do DOJ, a Andrew Weissmann, seu antecessor no cargo.
No documento, Martin solicita explicações sobre os procedimentos adotados durante as negociações do acordo estabelecido em 2016. O procurador estabeleceu o prazo de 7 de outubro para receber os esclarecimentos, após Weissmann ter ignorado uma comunicação anterior enviada em março.
Martin, que conduz investigações sobre possíveis abusos de poder durante governos democratas, questiona aspectos específicos da estruturação do acordo de leniência com a construtora brasileira. Um dos pontos críticos apontados refere-se à consolidação de informações por país, sem detalhamento dos contratos com sobrepreços, o que dificulta a compensação às vítimas.
O procurador cita como exemplo o projeto Rutas de Lima, no Peru, onde a ex-prefeita Susana Villarán responde judicialmente por supostamente ter recebido US$ 11 milhões das construtoras Odebrecht e OAS.
Martin estabelece comparações com outros casos de corrupção investigados no mesmo período, como Embraer, OZ Africa e Glencore. Segundo ele, nesses processos o DOJ manteve registros detalhados sobre os projetos, identificou vítimas específicas e assegurou restituições adequadas.
No Peru, as investigações da Lava Jato afetaram quatro ex-presidentes: Allan Garcia, Ollanta Humala, Alejandro Toledo e Pedro Pablo Kuczynski. Em abril de 2025, o presidente Lula enviou uma aeronave da Força Aérea Brasileira ao país para transportar Nadine Heredia, ex-esposa de Humala, oferecendo-lhe asilo político.
Em 2016, a Odebrecht formalizou um acordo judicial com autoridades dos EUA, Brasil e Suíça, admitindo o pagamento de US$ 788 milhões em propinas a políticos, autoridades e partidos em 12 países. Para encerrar as investigações, a empresa concordou em pagar multas de US$ 3,5 bilhões.
Desse montante, R$ 2,5 bilhões foram destinados ao “fundo da Lava Jato”, posteriormente dissolvido pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro. No Brasil, o ministro Dias Toffoli invalidou todas as provas apresentadas pela construtora em seu acordo de leniência, resultando na anulação das condenações de Marcelo Odebrecht e outros executivos.
Jornal da cidade