
Um dia após a megaoperação policial no Rio de Janeiro que desmantelou parte do narcotráfico e resultou em dezenas de criminosos mortos, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), anunciou a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a estrutura e expansão do crime organizado no país. A decisão foi tomada nesta quarta-feira (29) e, segundo o comunicado oficial, os trabalhos terão início na próxima terça-feira (4).
A CPI foi proposta pelo senador Alessandro Vieira (MDB-SE) e promete se concentrar na atuação de milícias e facções criminosas, com o objetivo — ao menos no discurso — de mapear suas conexões e fontes de financiamento. “É hora de enfrentar esses grupos criminosos com a união de todas as instituições do Estado brasileiro, assegurando a proteção da população diante da violência que ameaça o país”, afirmou Alcolumbre em nota.
Apesar do tom institucional, a criação da CPI gerou suspeitas de motivação política, especialmente por ter sido anunciada logo após a operação conduzida pelo governador Cláudio Castro (PL) — que contou com forte apoio popular, mas foi duramente criticada por setores da esquerda. A coincidência temporal levanta dúvidas sobre se a iniciativa busca combater o crime de fato ou criar um palanque para atacar as forças de segurança estaduais e governos alinhados à direita.
Analistas veem o movimento como parte de um discurso coordenado em Brasília, que tenta deslocar o foco da eficácia policial para um debate político sobre “modelo de segurança pública”. Enquanto governadores enfrentam criminosos nas ruas, parlamentares discutem CPIs que, na prática, podem acabar blindando os verdadeiros responsáveis pelo avanço das facções — o abandono do Estado nas fronteiras, a leniência judicial e o desmonte das forças policiais. O resultado pode ser mais uma comissão que investiga muito, mas resolve nada.
