
No último dia 6 de abril, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), utilizou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar de Brasília até São Paulo. A viagem, que deveria ser de caráter oficial, teve como passageiro um convidado inusitado: o cantor paraibano Netinho Lins, investigado pela Polícia Federal em um escândalo de proporções milionárias.
A revelação foi feita pelo jornal O Globo neste domingo (20) e expôs mais um episódio de uso indevido de recursos públicos por parte da alta cúpula do Congresso. Além de Motta e Lins, outros parlamentares também participaram do deslocamento, com destino à Associação Comercial de São Paulo, onde ocorreu um evento fechado. Netinho Lins não é um nome qualquer. Ele é conhecido nos bastidores políticos por sua proximidade com figuras poderosas como Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara, e o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Mas agora, o nome do cantor aparece no centro de uma investigação da PF que apura desvios bilionários de emendas parlamentares.
Segundo documentos obtidos na Operação Overclean, Netinho teria intermediado o repasse de mais de R$ 25 milhões para o Estado da Paraíba. As planilhas da PF indicam ainda que ele direcionou mais de R$ 2 milhões ao município de Patos. O artista teria atuado como um operador informal, recebendo recursos diretamente de prefeitos para redistribuí-los.
A Polícia Federal afirma que o cantor era um dos homens de confiança de Alex Rezende Parente, apontado como líder do esquema. Parente, segundo a investigação, comandava uma rede que movimentou mais de R$ 55 milhões, espalhados por pelo menos 12 Estados. Os repasses eram travestidos de emendas parlamentares, mas seguiam para contratos suspeitos.
O caso traz à tona mais uma vez o uso político de estruturas oficiais, como os voos da FAB, para fins pessoais e possivelmente ilícitos. A presença de Netinho Lins nesse voo, em meio a investigações graves, expõe a promiscuidade entre poder, dinheiro público e influência política. O povo brasileiro segue pagando a conta do privilégio e da impunidade.