
Quando o ministro Alexandre de Moraes autoriza Daniel Silveira a conceder entrevistas, mas mantém a proibição de uso das redes sociais, ou quando permite que Jair Bolsonaro participe de podcasts sob “condições controladas”, isso não é sinal de liberdade, e sim uma armadilha cuidadosamente montada. É o jogo da falsa concessão, em que se permite o mínimo apenas para preparar o terreno de uma nova punição.
O mecanismo é perverso: o sistema dá voz ao adversário, mas o cerca com restrições jurídicas e monitoramento constante. Assim que qualquer palavra é interpretada como afronta, inicia-se o espetáculo — manchetes, denúncias e nova repressão. O objetivo é simples: provocar uma reação e, em seguida, enquadrar os alvos por descumprirem as determinações impostas.
Silveira e Bolsonaro se tornaram exemplos claros dessa estratégia. São autorizados a falar, mas cada frase é vigiada. O regime se apresenta como democrático, porém atua como censura travestida de “liberdade supervisionada”. Permite-se o discurso, mas dentro dos limites traçados pela própria autoridade que julga, pune e vigia. É um ciclo calculado para sufocar qualquer resistência.
Enquanto isso, o poder togado, o aparato midiático e as forças que se dizem “defensoras da democracia” seguem controlando o debate público. A liberdade, nesse contexto, virou uma isca — uma permissão provisória para justificar mais controle. Silveira e Bolsonaro são os rostos dessa farsa: prisioneiros de um sistema que os liberta apenas para puni-los novamente.