
Mensagens atribuídas ao tenente-coronel Mauro Cid — ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e peça central da polêmica delação premiada — colocaram em xeque a validade do acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal. O conteúdo das conversas, enviado ao ministro Alexandre de Moraes, revela que Cid teria compartilhado detalhes sigilosos de sua delação com outros réus do processo, o que por si só já configuraria quebra grave do pacto firmado com o Ministério Público.
Apesar do flagrante, o STF não só ignorou o problema como deu sinais de que não aceitará qualquer questionamento sobre a delação. A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro solicitou a anulação do acordo, apontando a evidente violação de confidencialidade, mas Moraes classificou o pedido como “impertinente”, blindando mais uma vez a narrativa construída contra Bolsonaro.
Em vez de reavaliar o acordo com Cid, Moraes partiu para o ataque: determinou a prisão de Marcelo Câmara, ex-assessor do ex-presidente, acusando-o de “desprezo” pela Suprema Corte. A justificativa? Conversas com Mauro Cid. Além disso, o ministro ainda autorizou um novo inquérito contra o advogado Eduardo Kuntz, que defende Câmara, por suposta tentativa de obstrução da Justiça — baseando-se, mais uma vez, no mesmo material cuja legalidade é, no mínimo, duvidosa.
Para juristas como Jeffrey Chiquini, a situação é alarmante. “Isso é um absurdo completo. Se a delação foi violada por Cid, ela deveria ser anulada. Mas estão fazendo justamente o contrário: usam o erro dele para prender aliados de Bolsonaro”, denunciou. A leitura é clara: trata-se de uma ofensiva articulada para manter a perseguição judicial ao ex-presidente a qualquer custo.
Enquanto Moraes ignora violações escancaradas ao devido processo legal, cresce a sensação de que o sistema está disposto a atropelar qualquer garantia para atingir Bolsonaro. Delações instáveis, provas vazadas e prisões questionáveis se tornaram a regra em um jogo que parece cada vez mais político — e cada vez menos jurídico.