
A 30.ª edição da COP30 já está em andamento em Belém (PA), e uma das obras mais controversas da cidade ganhou forte repercussão. A estrada conhecida como Avenida Liberdade, com cerca de 13 quilômetros de extensão, atravessa áreas de floresta amazônica protegida e está sendo apontada por críticos como símbolo da incoerência de se sediar uma conferência climática enquanto se avança em infraestrutura que pode agravar o desmatamento.
O governo do estado do Pará defende que o traçado da via segue um “linhão” de energia já existente, que a obra foi licitada antes de Belém ter sido oficialmente escolhida como sede da COP30 e que o projeto não integra o pacote federal de 33 obras para o evento. COP30 Brasil Apesar disso, a lógica da prática e da visibilidade internacional reacendeu o debate sobre legado e hipocrisia ambiental.
As comunidades tradicionais, como o Quilombo do Abacatal, denunciam impactos diretos: túnel de acesso construído sem consulta prévia, perda de árvores, queda na produção de açaí e pupunha, além da especulação imobiliária que avança sobre o território.
Para muitos analistas liberais, o ponto central da crítica não é só o impacto local — é a imagem de um governo que professa defesa da floresta mas, nos bastidores, autoriza obras que devastam-na sob a justificativa de “mobilidade urbana”.
Essa contradição explode no cenário de uma conferência que tem no combate ao desmatamento e à proteção das florestas amazônicas um dos pilares. Territórios que deveriam simbolizar a preservação passam a abrigar máquinas e tratores. Para quem defende menor intervenção estatal e maior respeito ao meio ambiente enquanto condição de liberdade econômica — ou seja, mercados que dependem de estabilidade ambiental —, o episódio revela risco político e reputacional: se o Estado falha em dar o exemplo, como exigir padrões do setor privado?
O custo real desse tipo de infraestrutura, quando vista na ótica liberal-conservadora, vai além dos impactos ambientais: questiona-se o uso de recursos públicos, a destinação dos benefícios e quem realmente lucra com a obra. Mobilidade que atende a uma elite ou ao turismo ocasional de delegações internacionais dificilmente justifica o sacrifício de ecossistemas e comunidades vulneráveis. A COP30, portanto, não vira apenas palco de discursos — vira teste de coerência.
Em resumo: a COP30 acontece em Belém enquanto a Avenida Liberdade avança na Amazônia, revelando uma tensão grave entre discurso internacional e prática local. A obra, embora justificada pelo governo estadual como anterior à escolha do evento, simboliza para muitos o caminho errado de um país que prega preservação mas aplica infraestrutura invasiva. Para os que acreditam em liberdade, mercado e responsabilidade ambiental, o recado é claro — o exemplo do Estado importa tanto quanto as resoluções da conferência.
