
Nos anos 70, o Brasil aprovou a Lei da Anistia, um pacto nacional pela paz e pela redemocratização. Mesmo diante de crimes graves — sequestros, assaltos, assassinatos e terrorismo — a sociedade brasileira optou pelo perdão como caminho para seguir em frente.
Graças a essa escolha, milhares de exilados retornaram e refizeram suas vidas. Entre eles, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, que se tornaram ícones de uma geração marcada pelo discurso da reconciliação. Sem aquele gesto histórico, a democracia que temos hoje sequer teria existido.
No entanto, os mesmos que foram beneficiados pela anistia agora rejeitam a ideia para os brasileiros acusados de depredações em 8 de janeiro de 2023. Atos condenáveis, sim, mas que não deixaram mortos, não tiveram tiros e não se compararam aos crimes violentos cometidos no passado. A incoerência salta aos olhos.
Chico, que um dia cantou “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, hoje parece defender que o amanhã continue preso à vingança. Caetano, que dizia “é preciso estar atento e forte”, cedeu ao medo do perdão. E Gil, que um dia clamou “Pai, afasta de mim esse cálice”, agora aceita que o cálice da intolerância siga alimentando divisões.
A anistia de ontem pacificou o país. A de hoje é negada por quem dela usufruiu. O resultado é claro: sem perdão, o Brasil continuará dividido e a democracia seguirá refém da perseguição política. Anistia já!