
Uma reunião reservada entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), realizada na quinta-feira (26), escancarou as divisões internas da Corte em torno do julgamento do Marco Civil da Internet. O encontro, que durou cerca de quatro horas, teve discussões acaloradas e revelou um clima de tensão entre os magistrados, especialmente sobre os efeitos internacionais de uma eventual regulação das big techs.
Segundo apuração da jornalista Daniela Lima, da GloboNews, o ministro Kassio Nunes Marques alertou para o risco de retaliações diplomáticas, caso o STF avance em decisões que prejudiquem empresas americanas de tecnologia. Ele citou, de forma velada, o descontentamento crescente dos Estados Unidos com o ministro Alexandre de Moraes, apontado por veículos internacionais como símbolo de censura judicial no Brasil.
A reação de Moraes foi imediata. Em tom irônico, o ministro interrompeu Nunes e rebateu: “Eu, que sou eu, não estou preocupado. Por que você está preocupado?” Nunes respondeu pedindo ponderação, ressaltando que a Corte deveria considerar os impactos de uma eventual crise diplomática. Mas o comentário não agradou o decano Gilmar Mendes, que explodiu na reunião.
De acordo com relatos, Gilmar acusou Nunes de tentar “adiar o julgamento” com um “discurso bolsonarista disfarçado de cautela diplomática”. Para ele, cogitar represálias internacionais seria ceder à “chantagem estrangeira” e demonstrar fragilidade institucional do STF. A crítica acentuou o clima de confronto, com ministros divididos entre prudência estratégica e linha dura contra as plataformas digitais.
Apesar da pressão, Nunes Marques não pediu vista — o que poderia paralisar o julgamento — e optou por apresentar seu voto, permitindo o avanço da pauta. A decisão foi interpretada como uma tentativa de manter o equilíbrio, mesmo diante da hostilidade dos colegas. O episódio confirmou que a Corte está longe de um consenso e que as decisões do STF já ultrapassaram as fronteiras nacionais, atraindo a atenção de governos e entidades internacionais.
Nos bastidores, a reunião revelou o que o público já suspeitava: o STF está rachado, não apenas por ideologia, mas por divergências sobre como lidar com a pressão global contra decisões vistas como autoritárias. O alerta de Nunes reforça que o Brasil pode estar na rota de sanções e que o Supremo, cada vez mais politizado, não é imune às consequências do próprio ativismo.