
As contradições na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Eduardo Tagliaferro, ex-assessor da Justiça Eleitoral, revelam um escândalo jurídico e político sem precedentes. O procurador-geral Paulo Gonet acusa Tagliaferro de violação de sigilo funcional e até de “tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito”, por supostamente divulgar mensagens que abalaram a confiança na Justiça.
A acusação, porém, é um paradoxo. Se os diálogos fossem falsos, não haveria quebra de sigilo. Mas se são verdadeiros, não podem ser chamados de “fake news”. A lógica não se sustenta, transformando a denúncia em mais um instrumento de perseguição política. Além disso, surgem perguntas fundamentais: pode Alexandre de Moraes, sendo parte diretamente envolvida nas denúncias, ser ao mesmo tempo quem pede a investigação e o relator do caso? Por que Tagliaferro é investigado no STF se não tem foro privilegiado?
As mensagens reveladas são devastadoras. Um juiz auxiliar do gabinete de Moraes pediu a Tagliaferro que identificasse “revistas golpistas” para desmonetizar nas redes sociais. Como exemplo, citou a Revista Oeste, de linha conservadora. Tagliaferro respondeu que só encontrou “publicações jornalísticas”, mas recebeu de volta: “Use a sua criatividade… rsrsrs”. Em seguida, veio a ordem: “Pegue uma ou outra fala, opinião mais ácida… o Ministro entendeu que está extrapolando”. Tagliaferro encerrou: “Vou dar um jeito rsrsrs”.
Em outro lote de diálogos, revelado por Michael Shellenberger e David Agape, a gravidade aumentou: o gabinete de Moraes teria feito triagem ideológica das redes sociais de presos do 8 de janeiro para definir quem deveria ser solto ou mantido preso. Em um dos casos, um simples ambulante foi mantido encarcerado por quatro meses por críticas feitas ainda em 2018 contra o PT e Lula.
Diante das revelações, o processo contra Tagliaferro foi acelerado, e sua extradição da Itália passou a ser perseguida. Em qualquer democracia madura, diálogos como esses resultariam em investigação por abuso de autoridade. No Brasil de hoje, porém, a denúncia não é apurada — quem é perseguido é o denunciante. Esse é o retrato mais claro de um país mergulhado em censura e perseguição política institucionalizada.