
A última semana foi marcada por movimentações intensas nos bastidores do Supremo Tribunal Federal (STF), envolvendo diretamente dois de seus ministros mais influentes: Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Segundo informação publicada pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Gilmar teria admitido, em conversas reservadas, que decisões de Moraes ultrapassaram certos limites, embora tenha frisado que continuará apoiando o colega.
A revelação veio à tona após um período de intensa “romaria” de políticos, advogados e empresários ao gabinete de Gilmar Mendes, em Brasília. Conforme a coluna, as visitas ocorreram de forma frequente ao longo da semana e tiveram como pauta principal discussões sobre o cenário político-jurídico do país, em meio às recentes polêmicas envolvendo o Supremo.
Reconhecimento de “excessos”
De acordo com a reportagem, em reuniões privadas, Gilmar Mendes reconheceu que Alexandre de Moraes, em algumas decisões, teria extrapolado no alcance das medidas adotadas. Essa avaliação, porém, não significa um rompimento ou um afastamento institucional entre ambos. Pelo contrário, Gilmar teria reforçado que, apesar das críticas pontuais, seguirá apoiando o ministro, especialmente nos casos em que há alinhamento sobre a necessidade de preservar o funcionamento das instituições.
Essa postura chama atenção pelo fato de que, nos últimos anos, o STF tem sido alvo de intensos questionamentos e críticas, sobretudo por decisões de caráter monocrático que impactaram diretamente figuras públicas e partidos políticos. Moraes, em especial, tem se tornado o centro de debates acalorados devido à sua atuação em inquéritos como o das fake news e o dos atos antidemocráticos.
Apoio político e institucional
O relato de Lauro Jardim também reforça que a movimentação no gabinete de Gilmar Mendes foi estratégica. As conversas com lideranças políticas e empresariais serviram não apenas para discutir o papel do Supremo, mas também para articular uma narrativa de apoio interno entre os ministros diante das pressões externas.
Mesmo reconhecendo que certos atos de Moraes poderiam ser vistos como “excessivos”, Gilmar deixa claro que não pretende enfraquecer a posição do colega. Essa é uma postura que, segundo analistas, pode ser interpretada como uma tentativa de blindar o STF de possíveis ataques e de evitar divisões públicas entre seus membros, o que poderia abalar ainda mais a imagem da Corte.
Repercussão no meio jurídico
A admissão de “excessos” por parte de um ministro do STF sobre a atuação de outro é algo raro, ainda mais quando feita por Gilmar Mendes, conhecido por seu discurso firme e por não recuar diante de embates públicos. A fala, mesmo em caráter reservado, já começa a repercutir nos bastidores do Congresso Nacional, onde parlamentares críticos à atuação de Moraes enxergam no episódio uma abertura para reforçar questionamentos e pedidos de responsabilização.
Para advogados e juristas, o posicionamento de Gilmar pode ser lido de duas formas. De um lado, como um reconhecimento honesto de que há limites que não podem ser ultrapassados, mesmo na defesa das instituições. De outro, como uma demonstração de que, apesar das críticas internas, a união entre ministros é prioridade, ainda que isso implique apoiar decisões polêmicas.
O pano de fundo político
O episódio ocorre num momento de alta tensão entre o STF e setores do Legislativo e do Executivo. Nas últimas semanas, decisões de Moraes envolvendo bloqueios de redes sociais, multas elevadas e determinações judiciais de grande impacto político têm sido alvo de debates acalorados. O reconhecimento, ainda que tímido, de que houve exageros nessas medidas, reforça o clima de desconforto que se formou mesmo dentro do Supremo.
Ao mesmo tempo, a postura de Gilmar de manter o apoio a Moraes pode ser interpretada como um recado: divergências internas não significam fragilidade institucional. Essa mensagem é especialmente relevante diante de movimentos políticos que pedem impeachment de ministros ou mudanças no modelo de atuação da Corte.
STF sob os holofotes
Não é novidade que o STF está no centro do debate público e político brasileiro. Com decisões que influenciam diretamente o rumo do país, os ministros têm enfrentado um escrutínio cada vez maior, tanto da mídia quanto da opinião pública. Nesse contexto, falas como a atribuída a Gilmar Mendes funcionam como termômetro da temperatura interna e sinalizam que, mesmo entre aliados, há espaço para críticas.
No entanto, ao reforçar que continuará apoiando Moraes, Gilmar também deixa claro que a coesão da Corte é um valor a ser preservado, especialmente em tempos de crise. A mensagem implícita é que, apesar dos “excessos” reconhecidos, a visão institucional prevalece sobre eventuais divergências pessoais ou jurídicas.
Conclusão
O reconhecimento de “excessos” por parte de Gilmar Mendes em relação a Alexandre de Moraes adiciona mais um capítulo à complexa relação entre os ministros do STF e à forma como a Corte lida com críticas internas e externas. Ao mesmo tempo em que admite erros, Gilmar reafirma seu compromisso com a unidade da instituição, sinalizando que, diante das pressões políticas, a estratégia é resistir coesos.
Essa dinâmica mostra que, no tabuleiro político e jurídico brasileiro, a defesa das instituições é frequentemente acompanhada de concessões internas — e que, no Supremo, até mesmo as críticas vêm acompanhadas de apoio. O episódio reforça a percepção de que, por trás das portas fechadas, existe espaço para debates francos, mas que, diante do público, a prioridade é preservar a imagem de força e estabilidade da Corte.
