
A Polícia Federal incluiu em seu relatório final trechos de conversas privadas entre Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro, em que o ex-presidente afirma ter dialogado com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O episódio, que deveria estar protegido por sigilo, foi exposto de forma controversa e já causa constrangimento no meio jurídico e político.
Nas mensagens de 27 de junho, Bolsonaro pediu que Eduardo não compartilhasse determinados conteúdos nas redes sociais e evitasse “qualquer crítica ao Gilmar [Mendes]”. O ex-presidente disse ter conversado “com alguns do STF” e relatou que “todos ou quase todos demonstram preocupação com sanções”, em referência às medidas impostas pelos Estados Unidos contra ministros da Corte, como Alexandre de Moraes.
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Procurados pela imprensa, os ministros preferiram silenciar. Apenas André Mendonça, Flávio Dino e Gilmar Mendes emitiram nota formal afirmando que não se pronunciariam sobre o assunto. O silêncio, no entanto, só aumentou as especulações sobre o alcance dessas conversas e o desconforto interno no Supremo.
O mais grave é que a própria PF admite não ter conseguido recuperar parte do material trocado entre pai e filho, mas ainda assim fez menções a Gilmar Mendes e André Mendonça em seu relatório. A exposição seletiva reforça a acusação de que a Polícia Federal atua de maneira politizada, deixando de lado a imparcialidade que deveria pautar as investigações.
A revelação ocorre justamente em meio ao julgamento do “núcleo 1” da suposta tentativa de golpe, que tem Bolsonaro como réu. A divulgação desses diálogos abre um novo flanco de crise entre o Supremo, a PF e a classe política, além de dar sinais claros de que o processo está sendo conduzido sob forte viés político.