
Durante um evento de lançamento de seu livro em Brasília, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal, resolveu usar a ironia para comentar a humilhação internacional imposta ao STF. Ao mencionar as sanções dos EUA que revogaram vistos de entrada de ministros, Gilmar brincou: “Agora não posso contar histórias em Washington”. A piada expôs, sem querer, o isolamento diplomático dos membros da Corte diante do governo de Donald Trump.
A fala veio acompanhada de discursos que tentavam passar uma imagem de firmeza institucional, mas o tom irônico deixou claro o desconforto. Mendes citou os “desafios institucionais” enfrentados pela Corte, enquanto a presença de outros ministros — como Flávio Dino, Barroso e Zanin — reforçava a imagem de uma cúpula blindada contra críticas, mas cada vez mais desmoralizada internacionalmente. A ausência de qualquer autocrítica só evidenciou o abismo entre a cúpula do Judiciário e a realidade das ruas.
As sanções anunciadas pelos EUA atingiram Alexandre de Moraes, incluído na Lei Magnitsky por acusações de violação de direitos humanos, censura e perseguição política. Além dele, outros ministros também teriam tido seus vistos revogados, entre eles Gilmar, Barroso, Fachin, Dino, Zanin e Toffoli. A justificativa dos EUA foi direta: Moraes estaria comandando uma caça às bruxas contra cidadãos brasileiros e americanos, assumindo o papel de “juiz e júri” em processos claramente politizados.
Mesmo diante do constrangimento internacional, Gilmar ainda tentou exaltar o papel do STF como protetor da democracia, num discurso que já soa repetitivo e sem respaldo popular. Enquanto os ministros se consideram os “guardiões da Constituição”, o mundo observa o Judiciário brasileiro com desconfiança crescente. O episódio deixa claro: a bolha jurídica pode estar confortável em Brasília, mas já não tem mais passagem liberada em Washington.