
O Brasil vive uma situação alarmante: mais de 248 mil jumentos foram abatidos entre 2018 e 2024, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária. A pressão parte da indústria asiática, interessada no ejiao, um colágeno extraído da pele desses animais, muito utilizado em suplementos e medicamentos no mercado chinês. O epicentro desse abate está na Bahia, onde funcionam os três únicos frigoríficos autorizados a processar a espécie.
O impacto é devastador. O rebanho nacional despencou de 1,37 milhão em 1999 para apenas 78 mil em 2025, o que representa menos de 6% do total de três décadas atrás. A estimativa é da FAO, do IBGE e da plataforma Agrostat. Pesquisadores e entidades de proteção animal já alertam para o risco de extinção do jumento nordestino, uma raça fundamental para a agricultura familiar e o modo de vida do semiárido brasileiro.
Em resposta à crise, ocorre em Maceió o 3º Workshop Internacional – Jumentos do Brasil: Futuro Sustentável, promovido pela UFAL com apoio da ONG britânica The Donkey Sanctuary. O evento lança o relatório “Stolen Donkeys, Stolen Futures” e a campanha global “Stop The Slaughter”, que denuncia o comércio internacional como responsável por dizimar populações inteiras de jumentos em países em desenvolvimento.
No Congresso Nacional, duas propostas visam barrar o massacre. O PL 2.387/2022, em tramitação na Câmara, quer proibir o abate em todo o país. Na Bahia, o PL 24.465/2022 tenta impedir que os frigoríficos do estado continuem a operar com esse fim. A pressão da sociedade civil e de entidades internacionais cresce a cada dia.
Especialistas também indicam soluções tecnológicas. Roberto Arruda, agrônomo e doutor em economia aplicada pela USP, afirma que a fermentação de precisão já permite produzir colágeno sem uso de animais, o que elimina a necessidade de sacrificar espécies ameaçadas. “O Brasil pode se tornar referência global em alternativas éticas e sustentáveis”, defende.