
A recente decisão do Supremo, que joga a responsabilidade legal das postagens nas costas das big techs, inaugura um capítulo sombrio para a liberdade de expressão brasileira. Quando a multa e o risco criminal batem na porta das plataformas, o caminho natural será o cerco preventivo: deletar perfis, bloquear palavras, silenciar temas “sensíveis”. Ou obedecem ao STF ou abandonam o mercado; individualizar infratores jamais esteve no roteiro de quem lucra com controle algorítmico. Resultado? Os bons pagam pelos maus — e o debate público encolhe na trincheira do medo.
Diante dessa nova ortodoxia digital, usuários já criam subterfúgios para escapar do rastreador ideológico. Expressões distorcidas, memes cifrados e até erros “propositais” de ortografia viram escudos contra moderadores implacáveis. Não importa se você cita jurisprudência para chamar um condenado de ladrão; se o censor torcer o nariz, a punição cai sem dó nem prazo para recurso. No reino da “segurança jurídica”, prevalece a subjetividade do fiscal — e a verdade vira infração de termos de uso.
Mais alarmante: fatos documentados podem ser carimbados como fake news, críticas legítimas rotuladas de discurso de ódio, e divergências ideológicas tratadas como ameaça democrática. Aquilo que já se via no embate sobre gênero — obrigatoriedade de negar o biológico em prol do politicamente correto — tende a se expandir a qualquer pauta fora da régua progressista. Quem discordar precisará reescrever o idioma inteiro para permanecer on-line.
Prepare-se para decifrar a nova “ortografia de resistência”: Odói, Currotpo, ladrõa, Bolsanoro, Tupa, Coverda, Conservodar. São gambiarras criativas para driblar robôs de moderação que vigiam cada sílaba. E, para evitar confusão, vale lembrar: isso nada tem a ver com a tal “linguagem neutra” da moda (todes, elu, aquelu), que ataca diretamente a gramática em nome de agenda identitária. Aqui, trata-se de pura autodefesa contra o rolo compressor estatal.
Em suma, a regra é simples: falhou o filtro, cai a conta; discordou do discurso oficial, entra na mira. Numa sociedade em que verdades incômodas viram infrações e piadas rendem processos, a criatividade será o último bastião de liberdade. Se o STF transformou as redes em campo minado, cabe aos conservadores refinar códigos, resgatar o bom senso e manter acesa a chama da crítica — mesmo sob a iluminação opaca das togadas autoridades.