
Depois de já ter passado vergonha ao tentar defender os supersalários do Judiciário em um artigo no Estadão, o ministro Luís Roberto Barroso resolveu insistir na estratégia de tentar ludibriar a opinião pública. Desta vez, seu alvo foi a revista britânica The Economist, que escancarou o abuso de poder do ministro Alexandre de Moraes e o autoritarismo que vem marcando o STF. A resposta de Barroso foi uma nota repleta de manipulações e falácias que ofendem a inteligência do cidadão comum.
Logo de início, Barroso cita o “colapso das instituições” em países do leste europeu e da América Latina, mas não apresenta qualquer exemplo concreto. Fica no ar a dúvida se ele estaria se referindo a governos de direita, como se houvesse uma ameaça global contra a democracia vinda apenas desse lado. O ministro parece mais interessado em reforçar narrativas do que esclarecer fatos. Para tentar amenizar a crise de imagem do STF, Barroso recorre a uma pesquisa do Datafolha, onde mistura “confiança total” com “confiança parcial” para concluir que a maioria da população confia no Supremo.
A realidade, no entanto, é bem diferente: a confiabilidade líquida do STF é negativa. O povo já não vê legitimidade em uma corte que persegue adversários políticos e protege seus aliados.
Em outro trecho da nota, Barroso afirma que decisões monocráticas foram “posteriormente ratificadas” pelo colegiado. Mas esquece de mencionar que muitas dessas decisões sequer passaram pelo plenário, como a anulação das delações da Lava Jato feita por Toffoli. Além disso, o próprio Barroso evita comentar a censura imposta por Moraes às redes sociais, como o caso da X (antigo Twitter), onde perfis foram removidos de forma totalmente arbitrária.
Barroso também tenta justificar que nunca disse que o STF “derrotou Bolsonaro”, colocando a culpa no eleitor. Um truque retórico barato para fugir da responsabilidade por falas e decisões que deixaram claro o ativismo político da Corte. Ao invés de se portar como magistrado, ele se comporta como um militante de toga, sempre disposto a atacar quem questiona o sistema.
O ministro ainda tenta desviar a atenção da real crítica feita pela Economist: a suspeição dos juízes que julgarão Bolsonaro. Ignora o fato de que entre os julgadores estão um ex-advogado do presidente e um ex-ministro da Justiça. Além disso, Moraes, o principal algoz de Bolsonaro, é também parte diretamente envolvida no caso. O silêncio de Barroso sobre esse conflito de interesses escancara a parcialidade do processo.
Por fim, o mais grave é que Barroso já antecipa o veredito ao afirmar que os réus “tentaram um golpe de Estado”. Como confiar em um julgamento justo se o presidente do STF já decretou a culpa antes do início do processo? Estamos diante de um espetáculo vergonhoso, encenado por uma elite jurídica que perdeu completamente a noção do seu papel constitucional.