
O deputado Otoni de Paula, outrora tido como “bolsonarista raiz”, surpreendeu ao surgir como aliado de Lula. A mudança repentina de postura levantou sérias suspeitas nos bastidores de Brasília, com muitos questionando se o parlamentar não teria recebido algum benefício pessoal em troca de apoio. O gesto foi interpretado como traição por boa parte da base conservadora, que não aceita qualquer aproximação com o governo do PT.
Contudo, como diz o ditado popular, “nada como um dia após o outro”. Com a proximidade das eleições, Otoni parece ter percebido que sua ligação com o governo Lula poderá custar caro nas urnas. Em meio à rejeição crescente ao petismo, o deputado já ensaia uma tentativa de reaproximação com o eleitorado conservador, buscando reconstruir sua imagem.
A estratégia ficou clara quando Otoni usou o polêmico episódio da visita de Lula e Janja à Favela do Moinho, em São Paulo, para atacar o governo petista. O parlamentar protocolou na PGR um pedido de investigação contra o presidente, alegando que a visita foi articulada por uma ONG com ligações com o PCC, o que, se confirmado, pode configurar crime de associação criminosa.
No documento apresentado, Otoni de Paula pede que o Ministério Público apure possíveis crimes como prevaricação, advocacia administrativa e organização criminosa. Segundo ele, Lula teria se valido do cargo para promover interesses privados, agindo com apoio de entidades suspeitas. A denúncia, embora pertinente, chega tardiamente — e carrega o peso da contradição política.
O caso ganhou repercussão imediata, uma vez que Otoni já havia aparecido em cerimônia ao lado de Lula, inclusive orando por ele durante a sanção do Dia da Música Gospel. A cena, amplamente divulgada nas redes, foi duramente criticada por conservadores, que não aceitaram a ambiguidade do gesto. Agora, a tentativa de se desvincular do petismo parece mais um movimento de sobrevivência do que um ato de convicção.
Em resposta às acusações de que teria apoiado o petista, Otoni enviou nota à imprensa afirmando que “nunca votou nem apoiou Lula”, e que seu papel naquele evento foi pastoral, não político. Segundo ele, sua oração por Lula foi um ato de fé, baseado no ensinamento cristão de que se deve orar por todas as autoridades constituídas — mas garantiu continuar na oposição ao governo atual.
Mesmo assim, a memória do eleitor conservador é exigente. A base que sempre apoiou Otoni exige coerência absoluta, especialmente diante do avanço da agenda ideológica da esquerda. Se o deputado realmente deseja resgatar sua credibilidade, precisará demonstrar firmeza contínua, sem mais ambiguidades. Afinal, a confiança do povo não é moeda de troca, é conquistada com postura reta e fiel aos princípios.