
O jornalista Mário Sabino, colunista do site Metrópoles, publicou um artigo polêmico e alarmante intitulado “Jair Bolsonaro pode morrer preso”, em que cogita uma pena de até 43 anos de cadeia para o ex-presidente. O texto, considerado por muitos uma provocação disfarçada de reflexão, despertou indignação entre apoiadores e conservadores, que enxergam o artigo como uma tentativa velada de normalizar uma perseguição política em curso no Brasil.
Sabino especula sobre o estado de saúde de Bolsonaro e chega a insinuar que ele não resistiria ao cárcere, destacando que a facada sofrida em 2018 cobra um preço alto até hoje. O colunista ainda menciona que o ex-presidente não teria perfil para suportar restrições, e que poderia acabar descumprindo eventuais condições de prisão domiciliar, gerando um novo “espetáculo” para a imprensa.
Em tom que alterna sarcasmo e um verniz literário, Sabino compara o tratamento judicial atual com suplícios antigos de regimes bárbaros, e usa autores como Anatole France e Graciliano Ramos para tentar dar um ar filosófico ao que muitos enxergam como mais um capítulo do linchamento midiático contra Bolsonaro. Ainda assim, o colunista afirma que não escreve por piedade, mas reconhece que Bolsonaro pode ser condenado “pelo que não fez”.
O artigo escancarou o viés ideológico de parte da imprensa, que já trata como inevitável a condenação do ex-presidente sem que haja sequer julgamento. Para muitos, o texto serve de alerta sobre até onde o sistema está disposto a ir para remover de cena o maior líder da direita brasileira. A pergunta que resta é: quem será o próximo?
Leia o artigo na íntegra:
A cana para Jair Bolsonaro pode chegar, então, a 43 anos, se ele for condenado às penas máximas previstas para os crimes denunciados pela PGR.
Como tem 70 anos, mesmo com todas as reduções de pena que venha a ter direito, Jair Bolsonaro pode morrer preso — ou no xadrez ou em prisão domiciliar.
É duvidoso que ele tenha saúde para permanecer por muito tempo em uma cela de qualquer tipo. A pena imposta pela facada ao seu sistema digestivo está se mostrando implacável.
Ainda que venha a cumprir pena em prisão domiciliar, para além do padecimento pelas sequelas da facada, a sua personalidade não parece adaptável a privações de liberdade de qualquer tipo, ao contrário do que demonstrou Lula na sua passagem pelo xilindró.
Imagine-se Jair Bolsonaro impedido de enviar uma mensagem de WhatsApp ou de fazer uma postagem em rede social. Vai enlouquecer e enlouquecer quem está ao seu lado. Aliás, imagino que pipocarão denúncias sobre o ex-presidente ter desrespeitado as condições que lhe foram impostas pela prisão domiciliar. Será o novo passatempo da imprensa.
Nada do que escrevi implica ter piedade de Jair Bolsonaro, embora ache que ele será preso pelo que não fez. Também não tive pena de Lula, embora houvesse motivo concreto para a sua condenação.
O meu sentimento de justiça, no entanto, nunca se confundiu com satisfação pela desgraça alheia, e sempre fingi mal quando pretendi parecer o oposto.
Não que haja alguma elevação nisso. Talvez haja até um defeito moral em me colocar sempre na pele do outro, mesmo que ele me seja inimigo, ainda que ele seja o pior dos criminosos.
Em pesquisas literárias recentes, eu me deparei com um trecho de um escritor francês que atravessou aquela dobra de tempo que relega quase tudo ao esquecimento. O nome dele também recende a naftalina: Anatole France.
O trecho é sobre a invenção da prisão solitária:
“Existe uma ferocidade peculiar aos povos civilizados, que ultrapassa em crueldade a imaginação dos bárbaros. Um criminalista é bem mais malvado do que um selvagem. Um filantropo inventou suplícios desconhecidos à Pérsia e à China. O carnífice persa faz os prisioneiros morrer de fome. Era preciso um filantropo para fazê-los morrer de solidão. É nisso exatamente que consiste o suplício da solitária.”
No seu magnífico Memórias do Cárcere, Graciliano Ramos, sempre lapidar, foi sucinto ao explicar o que sentia em relação ao horizonte que se estreita em uma prisão: “Comovo-me, em excesso, por natureza e por ofício, acho medonho alguém viver sem paixões”. É por aí.