Ministro de Lula choca ao usar tráfico de Drogas como 'exemplo' para Infraestrutura no Brasil

Em entrevista recente à BBC News Brasil, o ministro dos Transportes, Renan Filho, gerou polêmica ao comentar o uso da infraestrutura brasileira por traficantes de drogas. Durante compromissos em Madri e Londres, o ministro destacou que a preferência dos criminosos pelos portos e aeroportos brasileiros ocorre devido à "superioridade" dessas instalações em relação a outros países, como a Argentina. Embora sua intenção fosse ressaltar a qualidade da infraestrutura, a declaração acabou soando inadequada, levantando questões sobre a segurança dos pontos de entrada e saída do Brasil. Renan afirmou que o Brasil é “azarado” por estar próximo dos maiores produtores de drogas do mundo, embora seja apenas um grande consumidor e não um país produtor. Ele explicou que, além de atender ao mercado nacional, o país tem sua infraestrutura utilizada para o transporte de entorpecentes destinados a outros continentes. Nas palavras do ministro: “A droga inunda o Brasil para acessar a nossa infraestrutura para ir para o mundo, porque os nossos portos e aeroportos são melhores.” A declaração, que associou a eficiência da infraestrutura brasileira ao uso por traficantes, expõe fragilidades na segurança desses locais e levanta preocupações.

Afinal, a função de portos e aeroportos deve ser contribuir para o desenvolvimento econômico e para as exportações legítimas, e não se tornar rota para atividades criminosas. Elogiar as estruturas logísticas do Brasil com base no interesse do tráfico parece, no mínimo, desastroso, criando uma imagem negativa para o país, sobretudo em um contexto de viagens oficiais que deveriam promover o potencial brasileiro no exterior. O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) reagiu prontamente às declarações do ministro, considerando-as alarmantes. O parlamentar protocolou um requerimento para convocar Renan Filho à Câmara dos Deputados, exigindo explicações detalhadas sobre o que ele quis dizer e sobre as medidas que estão sendo tomadas para combater o tráfico nesses locais estratégicos.

Nogueira enfatizou a seriedade da situação, afirmando que a suposta preferência dos traficantes pela infraestrutura brasileira revela lacunas na segurança e fiscalização, especialmente em portos e aeroportos. O requerimento feito pelo deputado solicita que Renan Filho apresente dados sobre o impacto do tráfico de drogas no sistema de transporte nacional e esclareça a relação entre o uso da infraestrutura e a atuação de facções criminosas. Nogueira afirmou: “Precisamos entender o que está acontecendo para tomar decisões legislativas adequadas. O que não podemos aceitar é que traficantes estejam usufruindo da nossa infraestrutura para cometer atos criminosos sem enfrentar um controle rigoroso.”

Em resposta ao constrangimento gerado, Renan Filho ponderou que, apesar dos receios de retaliação por parte de eventuais governos norte-americanos, a dependência do Brasil dos Estados Unidos é cada vez menor. Contudo, mesmo com essa ressalva, o ministro não evitou a repercussão negativa, uma vez que a segurança dos portos e aeroportos deveria ser prioridade de um governo que busca fortalecer sua imagem internacional. A fala do ministro também abre margem para reflexões sobre a eficácia das políticas de segurança adotadas pelo atual governo. Se por um lado a infraestrutura brasileira é tida como eficiente, por outro, o uso dessa mesma infraestrutura por criminosos sugere que há ainda muito a ser aprimorado para garantir que ela sirva apenas aos interesses legítimos do país.